domingo, 7 de março de 2010

Quero pedir imensa desculpas a todos aqueles que me enviaram comentários e não respondi. Andei afastada do blog, mas li sempre os comentários. Tenho alturas em que fico assim... meio perguiçosa, meio aborrecida. E acabo por me afastar um pouco. No entanto, venho aqui ler blogs. Adoro ler o que escrevem, principalmente quando me transmitem emoções, dúvidas, ideologias, etc. Fico interiormente mais enriquecida!
Pois... todos poderão reparar na hora tardia em que estou a escrever. Cheguei há pouco. Estive com o meu amor. Por mim tinha chegado a casa mais tarde, mas sou muito medrosa no que diz respeito chegar a casa muito tarde sozinha de carro. Tenho um pavor enorme que esteja alguém na rua que me possa fazer mal. Por isso adoptei um sistema: sempre que estaciono, ainda dentro do carro, ligo à minha namorada. E vou a falar com ela até abrir a porta de casa. Assim, caso alguém me queira fazer mal, o meu amor sabe e poderá ajudar-me. Sim, sou muito medrosa neste aspecto. Só de pensar em dôr e que me possam fazer mal, entro em pânico. E, à parte disto, também tenho um pavor enorme de bicharada... Bichos rastejantes, assim como lagartos, osgas, cobras, etc. E, infelizmente, na minha zona existem imensos bichos desses. Até me passo. Principalmente no Verão! São osgas por toda a parte! Sim, sei que as osgas não fazem mal nenhum e tal... Mas, tenho pavor!!
Hoje, dei por mim a desabafar com a minha namorada (sim, porque hoje o benfica jogou em casa ;-D ), que estou desejando de termos a nossa casinha, as nossas coisas, a nossa vida! Estou farta desta vida deprimente de viver com os pais e ter o emprego triste que tenho. Aqui ficaria bem a música de António Variações "Muda de Vida". Mas depois penso: Farei bem em deixar o meu emprego, quando o país está em crise? Farei bem em sair de casa e viver sem condições monetárias suficientes para sobreviver? Farei bem em contar a meus pais antes de ter essa independencia?
Talvez seja melhor aguardar um pouco mais...
Este emprego que me mata. Sorrir quando apenas se sente vontade de chorar, ser tolerante com as pessoas quando na realidade queremos chamar de BURRAS a elas por serem tão ignorantes. Mandar aquele colega "especial" pó ca.......... quando nos apetecer, chamar de burro ao chefe quando ele pensa que está a ser mais inteligente que eu. Epah, são coisas que me atormentam todos dias. E todos os dias a minha paciencia enche-se!!
Qual o dia que irá transbordar...??
Por vezes penso que este blog está a transformar-se num diário. Tive um diário na puberdade. E esse diário meteu-me em alguns problemas. Foi nele que escrevi pela primeira vez que me sentia atraida por mulheres. E que estava apaixonada por uma amiga. Minha mãe leu. Ficou chocada e proibio-me de falar com esta minha amiga. Fiquei tão transtornada com tudo isto que acabei por queimar o diário. Foi como um culto que o fiz. Foi como um funeral dos meus sentimentos. Ainda me recordo. Tinha cerca de 15 anos. Fui com a minha melhor amiga da altura para debaixo de uma árvore no campo, e comecei a queimar com um isqueiro folha a folha. Emocionalmente foi desgastante. Chorei imenso porque senti-me violada intimamente. Nunca vou esquecer o que senti. Uma impotência angustiante ao mesmo tempo de uma vergonha embaraçada. Queria fugir e não consegui olhar para a minha mãe nos olhos pelo menos durante um mês. Senti-me tão exposta que achei que não iria aguentar. Este ritual do queimar o meu diário foi uma coisa assim... intensa!! A minha melhor amiga era aquela que eu estava apaixonada na altura e que descrevia no diário. Ela soube. Soube de tudo, mas nunca agiu diferente comigo. Ainda hoje somos amigas. Gosto muito dela e só lhe desejo o melhor. Embora distantes, estamos sempre em contacto. Ela na sua vida, e eu na minha vida. Penso que não me apaixonei. Apenas era curiosidade e acabei por confundir amizade com amor. Quando relembro essa altura, recordo com mágoa e carinho. O ódio também se mistura aqui. Mas, de certo que foi uma crise existencial própria da idade. E sim, tive imensas crises existenciais. Tive imensas dúvidas de tudo. Entrava em depressão profunda e gostava de lá estar. Estranho? Não. Era o meu Mundo! Era onde poderia ser eu própria. O problema era que neste mundo, eu censurava-me a mim mesma. E esta censura tornava o meu mundo um local sombrio de estar.
Hoje considero-me uma pessoa ainda muito sombria. Continuo a ter este meu mundo. E este mundo continua escuro. No entanto, e talvez devido à idade, este meu mundo está discreto dentro de mim. E reaparece apenas quando estou mais vulnerável. Porque eu acredito que a fase da puberdade e da adolescencia pode enriquercer-nos ou simplesmente matar-nos. E o que eu acho que aconteceu comigo foi que ficou uma parte moribunda dentro de mim... Uma parte "zombie". A adolescencia deixou-me tantas marcas que acho que nunca vou esquecer. E estas marcas foram todas devido à minha orientação sexual. Andava à deriva. Portava-me tão mal comigo própria que na noite acabava por chorar de mim mesma. Poderão entender que tipo de sentimento é este e o que magoou?
O que é certo é que cresci. Hoje tenho 32 anos e, embora não esteja completamente realizada, sinto que sou uma mulher ponderada, tolerante e ciente de tudo o que me rodeia. Consigo ser teimosa e cruel por vezes. Comigo e com os outros. Exijo imenso de mim e por vezes dos outros também. Sei que consigo fazer melhor do que aquilo que faço e irrito-me quando tal não acontece. Zango-me comigo mesma com muita facilidade. Atormento-me porque não agi como deveria ter agido ou falado o que deveria ter falado. Arrenpendo-me constantemente quando ajo de cabeça quente. Mas o que me irrita mesmo é voltar a repetir o mesmo erro quando sei que me vou dar mal.
Mas, sou assim. Talvez por acreditar que na próxima vai ficar bem.
E sou assim talvez por ter esperança e a ideologia de um mundo perfeito.




2 comentários:

' Claudjinha disse...

Oh... adorei tanto ler este texto, que nem sabes! A parte que me "tocou" mais foi a do diário. Sabes porquê? Bem, quanto tinha 15 anos também tinha um diário. Um não, vários. escrevia tanto e escrevi tantos, que chegou ao 20º, acho eu (!!!). Por sorte, nunca ninguém leu. escrevi lá coisas que me era impensável que alguém soubesse. ainda hoje, quando os leio. passei por uma situação parecida com a tua, se calhar não assim tanto porque a duvida de orientação sexual não era minha, mas sim de um namorado que tive com essa idade e que acabou comigo por descobrir que era gay. nem imaginas o quanto sofri! páginas e páginas e páginas cheias de sofrimento de menina de 15 anos. até dói a ler! no teu caso, imagino que seria bem pior! e isso de queimares o diário... bem, só de imaginar dói-me! queimar os meus diários, mesmo que eles agora estejam lá na prateleira, cheios de pó, e façam parte de um passado que me parece mais longínquo do que é (afinal só passaram 4/5 anos dos meus 15 anos), fazem parte de mim..

por acaso tinha a ideia (não sei porquê) de que já vivias com a tua namorada. bom, espero que corra tudo pelo melhor nesse aspecto. que tal ires viver com ela E continuares a fazer o sacrificio de trabalhares onde trabalhas, até arranjares algo melhor e que te permita sutentar-te? ;)

boa sorte


beijinhos

Dharma disse...

Minha querida Cláudia, não, não moro com a minha namorada. Ainda não. Mas, ao sair de casa, terei eu condições suficientes para "aguentar" o barco? Julgo que não.
Sim, o ritual de queimar o meu diário foi uma situação da minha vida que me deixou muitas marcas. Não vou esquecer. Porque parece que fiquei nua em público, entendes? Foi muito doloroso!

beijinhos ;-)